Pode até trazer lembranças de “Encantada” e “O Ursinho Pooh”, mas o longa da Sony Pictures Animations está mais para versão melhorada de “Alvin e os Esquilos”.
Darlano Didimo
Assistir a “Os Smurfs” provoca imediatas associações com três filmes bem distintos. O primeiro deles é “Encantada”, a produção da Disney que levou para os cinemas uma versão moderna dos tradicionais contos das frágeis princesas. As propostas iniciais são semelhantes: ambas as histórias exibem uma invasão repentina e mágica de seres animados a Nova York. O relativo sucesso do longa de 2007, porém, descredencia a mais nova película da Sony Pictures Animations. Sem a inocência irônica de Giselle e companhia, além de trazer um humor feito exclusivamente para as crianças, a trama dos bichinhos azuis criados em 1958 mais parece trabalho feito para ser exibido na programação da tarde das redes de televisão.
Já o recém-lançado “O Ursinho Pooh” mostra aonde a versão cinematográfica dos smurfs deveria permanecer: em sua vila rodeada por flores e casas de cogumelo, com mais graciosidade e fidelidade ao desenho original. Fazer os personagens animados adentrar um mundo live action é uma escolha de difícil realização, que raramente atinge nível de qualidade satisfatório. Aí, então, entra a última obra que serve de comparação: a franquia “Alvin e os Esquilos”. A futura trilogia (sim, vem mais tortura para as telonas) é o parâmetro mais adequado para enquadrar “Os Smurfs”. Tratam-se de dois longas de intenções narrativas semelhantes e, evidentemente, medíocres em seus resultados, apesar de a trupe liderada por Papai Smurf ter momentos de superioridade sob os roedores que adoram cantar e dançar.
A trama não poderia ser mais previsível. Estão lá os míticos smurfs em sua Floresta Encantada, bem camuflados e protegidos das ameaças de Gargamel (Hank Azaria) e seu gato Cruel. Até que o esconderijo é descoberto pelo feiticeiro maléfico, ocasionando uma misteriosa passagem de seis integrantes da “espécie” para um mundo habitado por seres bem mais pálidos. Eles acabam parando na residência de Patrick (Neil Patrick Harris), um publicitário prestes a se tornar pai, mas cujas ameaças e inseguranças no emprego andam o atormentando diariamente. Além de tentarem se livrar da perseguição de Gargamel, os seis bichinhos tentam ajudar o simpático rapaz e sua esposa, em uma aventura para lá de animada.
É no mesmo tom clichê da sinopse acima que o roteiro escrito por um grupo de quatro profissionais da área aposta. Interessante notar que dentre esses roteiristas, dois deles (Jay Scherick e David Ronn) são responsáveis por “Norbit” (aquele fracasso estrelado por Eddie Murphy) e os outros dois (J. David Stem e David N. Weiss) nos presentearam com “Shrek 2”, uma nada convencional animação de qualidade inquestionável. A conclusão, logo, é de que a essência do filme foi inserida pela primeira dupla, porque não há nada de original em “Os Smurfs”. Muito pelo contrário, o filme é daqueles que provocam uma desagradável sensação de dèjá-vu a cada nova cena apresentada.
Os erros começam pela construção dos personagens. Desastrado, Ranzinza e Gênio têm suas falas e sequências limitadas a associações com os seus respectivos nomes. Logo, torna-se enfadonho ver o primeiro se esbarrar ou bater sem intenção em uma série de objetos e pessoas, assim como assistir ao segundo reclamar de tudo e de todos. Papai Smurf também tem uma série de ensinamentos e lições de coragem a dar continuamente. Ou seja, as principais atrações do filme, por mais que fisicamente guardem dose extra de fofura, são seres de pouco carisma, incapazes de contarem uma piada de efetiva comicidade ou conquistar a afeição do espectador. O mesmo se estende aos amigos humanos. Nem mesmo o ótimo Neil Patrick Harris consegue tirar alguma carta da manga para amenizar a chatice sem fim de seu personagem.
Com Gargamel, no entanto, o resultado é diferente. O vilão é de longe o que há de melhor no longa. É caricatural como deve ser, mas ainda assim possui uma agradável comicidade, seja ao explorar a relação conturbada e até certo ponto fatalista com Cruel ou ao colocá-lo em situações desconfortáveis que apostam na sua (falta de) adaptação ao novo mundo. É ele também quem provoca os momentos mais atribulados, acrescentando uma ação que pausa, por momentos, o ritmo morno (e por vezes sonolento) da narrativa. Deve-se destacar aqui a correria na loja de brinquedos de crianças. A versão humana de Gargamel, porém, decepciona. A vilã Odile (Sofia Vergara), chefe de Patrick, perde-se na dublagem e em alguns furos do roteiro. Vergara não é a mesma sem seu sotaque e nada pode fazer quando uma possível promissora relação com Gargamel é esquecida no meio do caminho pelo quarteto que escreveu a produção.
A direção de Raja Gasnell , responsável por películas bem distintas, como “Nunca Fui Beijada” e “Vovó…Zona”, pelo menos oferece uma qualidade técnica razoável que ajuda a colocar “Os Smurfs” um andar acima de “Alvin e os Esquilos”. O nivelamento aqui, porém, é por baixo, pois é difícil aguentar um filme que busca se sustentar com piadas que fazem seguidas associações com a cor azul (reparem na publicidade dos táxis) e cujos personagens não conhecem o limite da tolerância para trocar verbos e substantivos por diversas variações da palavra smurf. Infantil ao ponto de ser imbecil, o longa é uma versão medíocre para a clássica criação belga que já atravessou gerações.
Fonte: Cinema com Rapadura
Darlano Didimo
Assistir a “Os Smurfs” provoca imediatas associações com três filmes bem distintos. O primeiro deles é “Encantada”, a produção da Disney que levou para os cinemas uma versão moderna dos tradicionais contos das frágeis princesas. As propostas iniciais são semelhantes: ambas as histórias exibem uma invasão repentina e mágica de seres animados a Nova York. O relativo sucesso do longa de 2007, porém, descredencia a mais nova película da Sony Pictures Animations. Sem a inocência irônica de Giselle e companhia, além de trazer um humor feito exclusivamente para as crianças, a trama dos bichinhos azuis criados em 1958 mais parece trabalho feito para ser exibido na programação da tarde das redes de televisão.
Já o recém-lançado “O Ursinho Pooh” mostra aonde a versão cinematográfica dos smurfs deveria permanecer: em sua vila rodeada por flores e casas de cogumelo, com mais graciosidade e fidelidade ao desenho original. Fazer os personagens animados adentrar um mundo live action é uma escolha de difícil realização, que raramente atinge nível de qualidade satisfatório. Aí, então, entra a última obra que serve de comparação: a franquia “Alvin e os Esquilos”. A futura trilogia (sim, vem mais tortura para as telonas) é o parâmetro mais adequado para enquadrar “Os Smurfs”. Tratam-se de dois longas de intenções narrativas semelhantes e, evidentemente, medíocres em seus resultados, apesar de a trupe liderada por Papai Smurf ter momentos de superioridade sob os roedores que adoram cantar e dançar.
A trama não poderia ser mais previsível. Estão lá os míticos smurfs em sua Floresta Encantada, bem camuflados e protegidos das ameaças de Gargamel (Hank Azaria) e seu gato Cruel. Até que o esconderijo é descoberto pelo feiticeiro maléfico, ocasionando uma misteriosa passagem de seis integrantes da “espécie” para um mundo habitado por seres bem mais pálidos. Eles acabam parando na residência de Patrick (Neil Patrick Harris), um publicitário prestes a se tornar pai, mas cujas ameaças e inseguranças no emprego andam o atormentando diariamente. Além de tentarem se livrar da perseguição de Gargamel, os seis bichinhos tentam ajudar o simpático rapaz e sua esposa, em uma aventura para lá de animada.
É no mesmo tom clichê da sinopse acima que o roteiro escrito por um grupo de quatro profissionais da área aposta. Interessante notar que dentre esses roteiristas, dois deles (Jay Scherick e David Ronn) são responsáveis por “Norbit” (aquele fracasso estrelado por Eddie Murphy) e os outros dois (J. David Stem e David N. Weiss) nos presentearam com “Shrek 2”, uma nada convencional animação de qualidade inquestionável. A conclusão, logo, é de que a essência do filme foi inserida pela primeira dupla, porque não há nada de original em “Os Smurfs”. Muito pelo contrário, o filme é daqueles que provocam uma desagradável sensação de dèjá-vu a cada nova cena apresentada.
Os erros começam pela construção dos personagens. Desastrado, Ranzinza e Gênio têm suas falas e sequências limitadas a associações com os seus respectivos nomes. Logo, torna-se enfadonho ver o primeiro se esbarrar ou bater sem intenção em uma série de objetos e pessoas, assim como assistir ao segundo reclamar de tudo e de todos. Papai Smurf também tem uma série de ensinamentos e lições de coragem a dar continuamente. Ou seja, as principais atrações do filme, por mais que fisicamente guardem dose extra de fofura, são seres de pouco carisma, incapazes de contarem uma piada de efetiva comicidade ou conquistar a afeição do espectador. O mesmo se estende aos amigos humanos. Nem mesmo o ótimo Neil Patrick Harris consegue tirar alguma carta da manga para amenizar a chatice sem fim de seu personagem.
Com Gargamel, no entanto, o resultado é diferente. O vilão é de longe o que há de melhor no longa. É caricatural como deve ser, mas ainda assim possui uma agradável comicidade, seja ao explorar a relação conturbada e até certo ponto fatalista com Cruel ou ao colocá-lo em situações desconfortáveis que apostam na sua (falta de) adaptação ao novo mundo. É ele também quem provoca os momentos mais atribulados, acrescentando uma ação que pausa, por momentos, o ritmo morno (e por vezes sonolento) da narrativa. Deve-se destacar aqui a correria na loja de brinquedos de crianças. A versão humana de Gargamel, porém, decepciona. A vilã Odile (Sofia Vergara), chefe de Patrick, perde-se na dublagem e em alguns furos do roteiro. Vergara não é a mesma sem seu sotaque e nada pode fazer quando uma possível promissora relação com Gargamel é esquecida no meio do caminho pelo quarteto que escreveu a produção.
A direção de Raja Gasnell , responsável por películas bem distintas, como “Nunca Fui Beijada” e “Vovó…Zona”, pelo menos oferece uma qualidade técnica razoável que ajuda a colocar “Os Smurfs” um andar acima de “Alvin e os Esquilos”. O nivelamento aqui, porém, é por baixo, pois é difícil aguentar um filme que busca se sustentar com piadas que fazem seguidas associações com a cor azul (reparem na publicidade dos táxis) e cujos personagens não conhecem o limite da tolerância para trocar verbos e substantivos por diversas variações da palavra smurf. Infantil ao ponto de ser imbecil, o longa é uma versão medíocre para a clássica criação belga que já atravessou gerações.
Fonte: Cinema com Rapadura
Nenhum comentário:
Postar um comentário