Sabe aquele tipo de thriller policial de segunda com roteiro de terceira que, de algum modo, conseguiu um bom elenco? Pois este é justamente o caso deste futuro clássico do Super Cine.
Thiago Siqueira
Thrillers policiais e tramas de roubo são filmes onde a forma deve seguir a função, pelo menos os que têm como objetivo serem levados a sério. Tudo em tela deve seguir uma estrutura lógica para que a trama no final faça sentido e, ao mesmo tempo, o espectador fique surpreso com as revelações que se seguem. Pois bem, esqueceram de avisar isso aos realizadores de “À Beira do Abismo”. A despeito de o longa não se apresentar como uma caricatura, é impossível não sair da sala se perguntando o que passou pela cabeça dos realizadores ao produzir esta pequena bomba.
Escrito pelo desconhecido Pablo F. Fenjves, aqui em seu primeiro esforço para o cinema, a fita mostra o ex-policial Nick Cassidy (Sam Worthington) que, condenado por um roubo que não cometeu, foge da prisão e resolve pular de um edifício no centro de Nova York, com a problemática negociadora da polícia Lydia Mercer (Elizabeth Banks) tentando dissuadi-lo. Enquanto isso, seu irmão Joey (Jamie Bell) e a namorada deste, Angie (Genesis Rodriguez), arquitetam um roubo contra um magnata local (Ed Harris).
A projeção é repleta de clichês que fazem o público adivinhar tudo o que vai acontecer muito antes do que deveria, eliminando o suspense da equação. O script possui problemas gravíssimos. A estrutura do filme sofre um baque logo no seu primeiro ato ao nos apresentar ao protagonista já no prédio, matando qualquer preocupação que poderíamos ter com sua fuga da prisão, apresentada em um flashback logo depois.
Mais parece que o roteiro foi alvejado por uma metralhadora por conta do excesso de furos que possui. Além da escapada do protagonista ser tremendamente mal explicada, jamais entendemos como irmão e cunhada possuem as habilidades e informações necessárias para o roubo a um prédio de alta segurança. Até mesmo suas ações dentro do edifício não escapam deste problema, vide o modo como se utilizam de um sensor de calor (que desconheciam existir) a seu favor.
Sam Worthington e Elizabeth Banks, que trabalham juntos em boa parte da projeção, até possuem uma química interessante e Jamie Bell parece até entender a bomba em que se meteu, fazendo até uma pequena referência a “Billy Elliot” e Kyra Sedgwick tem uma participação divertida, mas a maioria das atuações é bastante exagerada, com destaque negativo para o veterano Ed Harris, cujo vilão tem até mesmo um momento “risada maligna”. Ele deve ter pensado que era Chris Cooper no filme dos Muppets…
A frouxidão no elenco pode ser consequência da inexperiência do diretor Asger Leth, aqui trabalhando pela primeira vez com cinema ficcional. Apesar de alguns planos mais inspirados, o cineasta parece perdido, apelando até mesmo para a exploração gratuita do corpo da belíssima Genesis Rodrigues. Notem como em todas as cenas do roubo a câmera parece se centrar nos seios da atriz.
Implodindo em um final estúpido e completamente sem sentido, “À Beira do Abismo” é uma produção medíocre e que só recebeu algum destaque por possuir alguns atores famosos em seu elenco. Passe longe.
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Thiago Siqueira é crítico de cinema do CCR e participante fixo do RapaduraCast. Advogado por profissão e cinéfilo por natureza, é membro do CCR desde 2007. Formou-se em cursos de Crítica Cinematográfica e História e Estética do Cinema.
Fonte: Cinema com Rapadura
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