O amor está de volta. Esqueceram de colocar um pouco de pimenta nele.
Jader Santana
Não é todo dia que chega aos cinemas uma comédia romântica com capacidade de transformar os clichês que permeiam o gênero em pontos positivos para a produção. A grande maioria dos lançamentos que se enquadram dentro da proposta de fazer rir e emocionar acaba derrapando nas mesmas falhas de seus antecessores: roteiro imaturo e previsível, otimismo exagerado e atores cujo potencial cênico parece limitado. O segundo longa dirigido por Tom Hanks pode ser posicionado no ponto neutro entre o êxito e o fracasso, entre o surpreendente e o irritante. Para a proposta que assumiu, sair da escala negativa talvez já seja um êxito.
“Larry Crowne – O Amor Está de Volta” marca o retorno do astro ao comando de um filme depois de um hiato de quase 15 anos – o último longa dirigido por Hanks havia sido “The Wonders – O Sonho Não Acabou” – e o resgate da parceria exitosa firmada no drama “Jogos de Poder”, de 2007, entre ele e Julia Roberts. Aqui, nem a direção e nem a empatia entre os protagonistas parecem motivos suficientes para posicionar esse novo projeto em uma classificação acima da média. O que temos é o exemplar de um filme morno, de cores frias e situações corriqueiras, que não se sustentaria sem os nomes que encabeçam sua realização.
A premissa do roteiro – escrito por Hanks em parceria com Nia Vardalos, mais conhecida por seu papel em “Casamento Grego” – poderia parecer atual e conquistar de imediato parte do público norte-americano, ainda sob os efeitos morais da recessão econômica que explodiu em 2008. Larry (Hanks) era o funcionário modelo de uma grande rede de supermercados até ser formalmente demitido por não possuir um curso superior em seu currículo. Para contornar o problema, decide retomar os estudos e assume duas disciplinas que podem impulsionar sua carreira: oratória e economia. Enquanto divide as atenções de um professor oriental especialista em negócios numa sala de aula lotada, também precisa escapar dos olhares raivosos de Mercedes (Roberts), a irritadiça professora que assiste passivamente ao desmoronamento de seu casamento e do número de alunos matriculados em suas aulas.
A trama é construída, então, sob duas óticas complementares. A primeira delas é a reconstrução pessoal e profissional vivida por Larry, em meio aos novos amigos que conquista no ambiente escolar e como resultado das mudanças em seu tipo físico e modo de vestir propostas por eles. O outro âmbito é o afetivo – aqui mais óbvio que o outro – que será galgado entre ele e a professora, após insistências, recusas e demais situações tão habituais ao gênero. E aqui aparece o otimismo exagerado que tanto irrita nas comédias românticas: logo sabemos que o desleixo físico e o azar profissional de Larry serão contornados, assim como é impossível não perceber que a antipática primeira impressão criada entre os protagonistas vai virar atração irresistível no último ato.
No caldeirão de lugares-comuns que permeiam a narrativa, o que ainda garante certa vivacidade ao filme é o carisma de seus protagonistas. É difícil olhar para Hanks e não sentir uma admiração que beira o afeto, seja pelos filmes que estrelou e que acompanharam nosso crescimento (“Quero Ser Grande”, “Forrest Gump” e “À Espera de um Milagre”), seja pela indefectível trajetória pessoal ligada ao seu nome. Igualmente raro é encontrar alguém que não demonstre algum interesse quando descobre o nome de Julia Roberts no topo de um projeto, e aqui ela está excelente como uma professora não muito afeita aos sorrisos.
O desempenho dos protagonistas é o melhor motivo para ver “Larry Crowne” e para dar mais uma chance aos ímpetos de Hanks em suas atividades como diretor. Seu trabalho por trás das câmeras ainda carece da mesma vivacidade e bom humor que solidificou sua carreira. No comando de um filme, bom-mocismo nem sempre é sinônimo de qualidade.
Fonte: Cinema com Rapadura
Jader Santana
Não é todo dia que chega aos cinemas uma comédia romântica com capacidade de transformar os clichês que permeiam o gênero em pontos positivos para a produção. A grande maioria dos lançamentos que se enquadram dentro da proposta de fazer rir e emocionar acaba derrapando nas mesmas falhas de seus antecessores: roteiro imaturo e previsível, otimismo exagerado e atores cujo potencial cênico parece limitado. O segundo longa dirigido por Tom Hanks pode ser posicionado no ponto neutro entre o êxito e o fracasso, entre o surpreendente e o irritante. Para a proposta que assumiu, sair da escala negativa talvez já seja um êxito.
“Larry Crowne – O Amor Está de Volta” marca o retorno do astro ao comando de um filme depois de um hiato de quase 15 anos – o último longa dirigido por Hanks havia sido “The Wonders – O Sonho Não Acabou” – e o resgate da parceria exitosa firmada no drama “Jogos de Poder”, de 2007, entre ele e Julia Roberts. Aqui, nem a direção e nem a empatia entre os protagonistas parecem motivos suficientes para posicionar esse novo projeto em uma classificação acima da média. O que temos é o exemplar de um filme morno, de cores frias e situações corriqueiras, que não se sustentaria sem os nomes que encabeçam sua realização.
A premissa do roteiro – escrito por Hanks em parceria com Nia Vardalos, mais conhecida por seu papel em “Casamento Grego” – poderia parecer atual e conquistar de imediato parte do público norte-americano, ainda sob os efeitos morais da recessão econômica que explodiu em 2008. Larry (Hanks) era o funcionário modelo de uma grande rede de supermercados até ser formalmente demitido por não possuir um curso superior em seu currículo. Para contornar o problema, decide retomar os estudos e assume duas disciplinas que podem impulsionar sua carreira: oratória e economia. Enquanto divide as atenções de um professor oriental especialista em negócios numa sala de aula lotada, também precisa escapar dos olhares raivosos de Mercedes (Roberts), a irritadiça professora que assiste passivamente ao desmoronamento de seu casamento e do número de alunos matriculados em suas aulas.
A trama é construída, então, sob duas óticas complementares. A primeira delas é a reconstrução pessoal e profissional vivida por Larry, em meio aos novos amigos que conquista no ambiente escolar e como resultado das mudanças em seu tipo físico e modo de vestir propostas por eles. O outro âmbito é o afetivo – aqui mais óbvio que o outro – que será galgado entre ele e a professora, após insistências, recusas e demais situações tão habituais ao gênero. E aqui aparece o otimismo exagerado que tanto irrita nas comédias românticas: logo sabemos que o desleixo físico e o azar profissional de Larry serão contornados, assim como é impossível não perceber que a antipática primeira impressão criada entre os protagonistas vai virar atração irresistível no último ato.
No caldeirão de lugares-comuns que permeiam a narrativa, o que ainda garante certa vivacidade ao filme é o carisma de seus protagonistas. É difícil olhar para Hanks e não sentir uma admiração que beira o afeto, seja pelos filmes que estrelou e que acompanharam nosso crescimento (“Quero Ser Grande”, “Forrest Gump” e “À Espera de um Milagre”), seja pela indefectível trajetória pessoal ligada ao seu nome. Igualmente raro é encontrar alguém que não demonstre algum interesse quando descobre o nome de Julia Roberts no topo de um projeto, e aqui ela está excelente como uma professora não muito afeita aos sorrisos.
O desempenho dos protagonistas é o melhor motivo para ver “Larry Crowne” e para dar mais uma chance aos ímpetos de Hanks em suas atividades como diretor. Seu trabalho por trás das câmeras ainda carece da mesma vivacidade e bom humor que solidificou sua carreira. No comando de um filme, bom-mocismo nem sempre é sinônimo de qualidade.
Fonte: Cinema com Rapadura
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