quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Diretor de A Mulher Invisível mergulha em máquina do tempo com O Homem do Futuro

Heitor Augusto

No meio da centena de filmes que são lançados – ou jogados, dependendo do aporte financeiro – no circuito comercial está um realizador que busca ter no público o reconhecimento de sua assinatura.

Não nos moldes da “política dos autores” consagrada pela crítica francesa, mas na expectativa de que, quando um espectador ler “Claudio Torres” num pôster, consiga associá-lo a Redentor, A Mulher do Meu Amigo, A Mulher Invisível e, mais recentemente, O Homem do Futuro, a nova incursão do cineasta carioca numa história fantástica. Desta vez, com a parceria de Wagner Moura, Alinne Moraes e Gabriel Braga Nunes.

“É... talvez seja um sonho ter o meu público”, sorri, marotamente, o diretor em entrevista exclusiva ao Cineclick em São Paulo. Com um discreto sotaque carioca, o filho de Fernanda Montenegro e irmão de Fernanda Torres continua. “É um desejo. Pessoas que viram A Mulher Invisível talvez gostem de O Homem do Futuro e aí digam: ‘Ah, é do Claudio Torres’, assim como dizem que é um filme do Jabor, do Cacá Diegues, do Bressane”.

Na intenção de ter seus filmes reconhecidos pelo público, Torres indica que Redentor, de 2004, seu primeiro longa após 12 anos trabalhando com audiovisual, foi um divisor de águas. “A força da figura feminina nos meus dois últimos filmes vem dele, um filme sem amor”.

“Com o primeiro longa, entendi a indústria do cinema, a questão do público, o distribuidor, a crítica, como é difícil levantar um filme e que, geralmente, se você se propõe a estar naquele lugar [de realizador], tem de almejar algum público no seu país ou um reconhecimento internacional por alguma outra instância, contribuir pra gramática do cinema internacional. Essa eu abandonei, não tento por aí”.

Está aí a principal chave do cinema de Claudio Torres: a aspiração com uma linguagem mais arriscada, que resultou no imperfeito, mas louvável, Redentor, deu lugar a opções narrativas mais seguras: Torres não esconde e não ter vergonha de assumir que busca que seus filmes sejam vistos por muitos.

“Passada quase uma década, gosto muito mais do Redentor, um filme respeitado pela crítica, mas que não foi muito visto. E a gente sabe que um filme para se pagar tem de ter, pelo menos, 800 mil espectadores”. O primeiro longa do cineasta chegou a 247 mil espectadores, enquanto A Mulher Invisível alcançou 2,3 milhões.

Porém, ao contrário de outros pares, a busca de Torres pelo seu público não se transforma em arrogância e menosprezo pela crítica.

De Volta para o Futuro

Em seu quarto longa-metragem, o cineasta volta a fugir do registro realista. Se em A Mulher Invisível mostrou o solitário Selton Mello inventando a companheira dos sonhos, desta vez coloca Wagner Moura na pele de um cientista maluco que volta no tempo para recuperar a mulher que perdeu na faculdade.

“O realismo não é algo que me atrai. Gosto das hipóteses fantásticas, até porque o teatro e o cinema são os lugares onde isso pode acontecer e, dentro disso, evidentemente, viver o drama humano, este sim real. A desilusão, a mágoa e o ressentimento do personagem do Wagner são coisas muito reais que as pessoas experimentam”, avalia.

Na trama, Zero (Moura) é um cientista que cria, por acidente, uma máquina que o leva para o passado. Mais precisamente, a uma noite de novembro de 1991 quando, ainda na faculdade, levou um fora da garota mais popular, Helena (Alinne Morais), e foi achincalhado publicamente.

Não são poucas as semelhanças com o enredo da sequência De Volta Para o Futuro II, no qual os personagens usam o conhecimento sobre fatos políticos e econômicos do passado para influir em sua conta bancária do futuro. Também há citações visuais a Solaris, de Andrei Tarkovsky.

Apesar de semelhanças, o registro de O Homem do Futuro é outro. “Tentei fazer um filme pop, sabe? Romântico, mas pop”, define o cineasta. A música de Renato Russo exerce papel fundamental na ambientação: o filme não seria o mesmo sem Tempo Perdido, canção que integra o álbum Dois (1986), do Legião Urbana.

“Escolhi ambientar o filme em 1991 por duas razões. Primeiro, acho que é um período fácil para o público reconhecer. Collor estava no auge naquele momento. Segundo, a Legião já havia lançado o álbum Quatro Estações”. Torres trabalhou como diretor de arte nesse CD.

Porém, o arranjo da canção foi mais alegre e menos fossa à Joy Division como a versão do álbum. Não foi fácil convencer Wagner Moura a cantar novamente uma música da Legião num filme. “Ele já havia feito isso em Vips. Num momento, pensamos até em Tim Maia, mas chegou uma hora em que a letra daquela música, aquele negócio de “O que foi prometido ninguém prometeu” pegou. Pedi para cantar de novo e vamos nessa”, conta, sob risos, Claudio Torres.

A reportagem do Cineclick não podia ter cutucado a onça com vara curta: Claudio Torres é um fã inveterado de Renato e da Legião, capaz de falar muitos minutos sobre o assunto quando provocado, lembrar os primeiros shows violentos da banda e sacramentar que “é a maior banda que o Brasil já teve”, afirmação que este repórter discorda. Mas o tempo da entrevista se encerra.

Fonte: Cineclick - UOL

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