Primeira e melhor parceria de Johnny Depp e Tim Burton é cinema para se emocionar, causar estranhamentos e risos, em uma mistura verdadeira de sentimentos.
Darlano Didimo
Os filmes de Tim Burton têm o tempo como um de seus principais inimigos. Os anos tratam de colocá-los em seus devidos lugares. Obras precipitadamente elogiadas, como “A Fantástica Fábrica de Chocolate” (2005) e “Sweeney Todd” (2007) perdem força a cada nova visita. O bizarro passa a incomodar mais do que despertar sensações de originalidade. A característica, aliás, vem invadindo e tomando o espaço que a magia ocupava nos últimos anos. O fantástico, enfim, vem se dissipando no cinema de Burton. “Alice no País das Maravilhas” (2010) que o diga.
“Edward Mãos de Tesoura”, porém, ainda sobrevive, mesmo não sendo a obra-prima que a memória dos que aproveitaram os anos 90 e cansaram de assisti-lo na “Sessão da Tarde” teimasse em exaltar. Ainda há uma inocência pura no universo maravilhoso construído pelo diretor norte-americano. O quarto longa-metragem de Burton e a primeira e melhor parceria com Johnny Depp (“Ed Wood” que me desculpe) é cinema para se emocionar, causar estranhamentos e risos, em uma mistura verdadeira de sentimentos.
O universo fabulesco está em cada cena do filme, desde a opção de contá-lo como se fosse uma história de ninar, passando pela apresentação dos personagens (em sua maioria, caricatos) e cenários (com suas casas de arquitetura semelhante, diferindo apenas na cor), desaguando em uma narrativa de estrutura explícita, que se encerra do mesmo modo que começou. A didática, no entanto, é incrementada (pode-se falar até em releitura) por um fator que se tornou marca de Burton e de que Johnny Depp é o principal expoente: o estranho, o bizarro, o excêntrico. Chame como quiser.
Qual diretor contaria uma história cujo personagem principal é um homem pálido de mãos de tesoura, cheio de cicatrizes no rosto e morador de um castelo abandonado? Qual diretor faz com que cortes de cabelo ridículos sejam apreciados com enorme satisfação? Poucos. Tim Burton é um dos únicos capazes de construir mundos particulares, extremamente cinematográficos e de fácil identificação. E aqui ele está no auge da forma ao nunca se levar a sério, exagerando sem medos e, consequentemente, arrancando risos.
A comédia leve traz uma simpatia extra para o longa, sustentando-se nas personagens da sempre competente Dianne Wiest (Peg) e suas vizinhas fofoqueiras. O roteiro da então estreante Caroline Thompson, que repetiria a parceria com o cineasta no bom “A Noiva Cadáver” (2005), tem tiradas cômicas eficientes, mas que não desviam o foco do tom mágico que se apresenta desde a introdução, tornando-se mais denso no terço final do longa. É, então, que “Edward Mãos de Tesoura” se torna visual e sonoramente inesquecível. Apropriando-se da sensibilidade característica em época de Natal, a trama encanta com sua simplicidade e pureza, elevada ao máximo quando Kim (Winona Ryder) dança sob a neve esculpida por Edward.
A cena, assim como toda a película, não teria o mesmo efeito se não fosse a espetacular trilha sonora criada por Danny Elfman. Por meio de coros de vozes, o compositor “oficial” de Burton nos faz mergulhar e deixar se envolver pela beleza desta história, jamais esquecendo também de acelerar o ritmo das sequências quando a comédia é o principal propósito. Podem até dizer que Elfman utilizou o mesmo expediente de outros filmes, mas nenhum alcançou o resultado inebriante daqui. Basta escutar a trilha e a associação é imediata.
No entanto, o filme perde força narrativa ao ver o seu ato final se aproximar. Se os nossos olhos e os ouvidos vibram, o cérebro incomoda-se quando a necessidade de um clímax se instala, levando a atitudes injustificadas do vilão Jim (Anthony Michael Hall). O ciúme seria o motivo, mas o roteiro de Thompson vacila ao não desenvolver um conto de amor gradual que nos convença do sentimento. Logo, ouvir um “eu te amo” sair da boca de Kim (Ryder), assim como assistir à tragédia que decorre de tudo aquilo, soa artificial.
O mesmo não se pode dizer da atuação de Johnny Depp. Bem mais contido do que em outras parcerias com Tim Burton (especialmente como Willy Wonka e Edwood), o ator nos exibe uma excentricidade natural de um homem sem padrão moral que está ali para impressionar e levar felicidade, mas que é “engolido” pela má-fé e interesse de uma sociedade que vive de aparências. Apenas Depp e Burton poderiam presentear-nos com um personagem tão estranhamente carismático. Assim como é todo o filme.
Fonte: Cinema com Rapadura
Darlano Didimo
Os filmes de Tim Burton têm o tempo como um de seus principais inimigos. Os anos tratam de colocá-los em seus devidos lugares. Obras precipitadamente elogiadas, como “A Fantástica Fábrica de Chocolate” (2005) e “Sweeney Todd” (2007) perdem força a cada nova visita. O bizarro passa a incomodar mais do que despertar sensações de originalidade. A característica, aliás, vem invadindo e tomando o espaço que a magia ocupava nos últimos anos. O fantástico, enfim, vem se dissipando no cinema de Burton. “Alice no País das Maravilhas” (2010) que o diga.
“Edward Mãos de Tesoura”, porém, ainda sobrevive, mesmo não sendo a obra-prima que a memória dos que aproveitaram os anos 90 e cansaram de assisti-lo na “Sessão da Tarde” teimasse em exaltar. Ainda há uma inocência pura no universo maravilhoso construído pelo diretor norte-americano. O quarto longa-metragem de Burton e a primeira e melhor parceria com Johnny Depp (“Ed Wood” que me desculpe) é cinema para se emocionar, causar estranhamentos e risos, em uma mistura verdadeira de sentimentos.
O universo fabulesco está em cada cena do filme, desde a opção de contá-lo como se fosse uma história de ninar, passando pela apresentação dos personagens (em sua maioria, caricatos) e cenários (com suas casas de arquitetura semelhante, diferindo apenas na cor), desaguando em uma narrativa de estrutura explícita, que se encerra do mesmo modo que começou. A didática, no entanto, é incrementada (pode-se falar até em releitura) por um fator que se tornou marca de Burton e de que Johnny Depp é o principal expoente: o estranho, o bizarro, o excêntrico. Chame como quiser.
Qual diretor contaria uma história cujo personagem principal é um homem pálido de mãos de tesoura, cheio de cicatrizes no rosto e morador de um castelo abandonado? Qual diretor faz com que cortes de cabelo ridículos sejam apreciados com enorme satisfação? Poucos. Tim Burton é um dos únicos capazes de construir mundos particulares, extremamente cinematográficos e de fácil identificação. E aqui ele está no auge da forma ao nunca se levar a sério, exagerando sem medos e, consequentemente, arrancando risos.
A comédia leve traz uma simpatia extra para o longa, sustentando-se nas personagens da sempre competente Dianne Wiest (Peg) e suas vizinhas fofoqueiras. O roteiro da então estreante Caroline Thompson, que repetiria a parceria com o cineasta no bom “A Noiva Cadáver” (2005), tem tiradas cômicas eficientes, mas que não desviam o foco do tom mágico que se apresenta desde a introdução, tornando-se mais denso no terço final do longa. É, então, que “Edward Mãos de Tesoura” se torna visual e sonoramente inesquecível. Apropriando-se da sensibilidade característica em época de Natal, a trama encanta com sua simplicidade e pureza, elevada ao máximo quando Kim (Winona Ryder) dança sob a neve esculpida por Edward.
A cena, assim como toda a película, não teria o mesmo efeito se não fosse a espetacular trilha sonora criada por Danny Elfman. Por meio de coros de vozes, o compositor “oficial” de Burton nos faz mergulhar e deixar se envolver pela beleza desta história, jamais esquecendo também de acelerar o ritmo das sequências quando a comédia é o principal propósito. Podem até dizer que Elfman utilizou o mesmo expediente de outros filmes, mas nenhum alcançou o resultado inebriante daqui. Basta escutar a trilha e a associação é imediata.
No entanto, o filme perde força narrativa ao ver o seu ato final se aproximar. Se os nossos olhos e os ouvidos vibram, o cérebro incomoda-se quando a necessidade de um clímax se instala, levando a atitudes injustificadas do vilão Jim (Anthony Michael Hall). O ciúme seria o motivo, mas o roteiro de Thompson vacila ao não desenvolver um conto de amor gradual que nos convença do sentimento. Logo, ouvir um “eu te amo” sair da boca de Kim (Ryder), assim como assistir à tragédia que decorre de tudo aquilo, soa artificial.
O mesmo não se pode dizer da atuação de Johnny Depp. Bem mais contido do que em outras parcerias com Tim Burton (especialmente como Willy Wonka e Edwood), o ator nos exibe uma excentricidade natural de um homem sem padrão moral que está ali para impressionar e levar felicidade, mas que é “engolido” pela má-fé e interesse de uma sociedade que vive de aparências. Apenas Depp e Burton poderiam presentear-nos com um personagem tão estranhamente carismático. Assim como é todo o filme.
Fonte: Cinema com Rapadura
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