Carol Almeida
O céu é um escritório do FBI onde Deus está sempre indisponível em sua sala enquanto seus funcionários-anjos rabiscam o destino da humanidade em cadernos moleskines. Assim em linhas gerais, este é o pano de fundo de Os Agentes do Destino, mais um filme que coloca Matt Damon para correr em uma ficção científica que quer ser gente grande ao tentar criar uma parábola sobre o livre arbítrio. E para sustentar um argumento que casa teocracia com burocracia, o estreante diretor George Nolfi coloca em primeiro plano uma história de amor daquelas que deveriam ser arrebatadoras, incondicionais, à moda antiga. Essa pelo menos era a intenção.
A lembrar que, bem longe de uma versão policiada de Asas do Desejo, de Wim Wenders, estamos falando de mais uma obra cinematográfica adaptada de um conto do best-seller Philip K. Dick, autor de histórias que devem chegar rápido à sua memória: Blade Runner, O Vingador do Futuro e Minority Report. Em comum, todos esses roteiros apresentam a boa e velha fórmula da teoria da conspiração, de que o mundo não é exatamente tal como o conhecemos e de que existem pessoas tramando "por trás das portas". Figura de linguagem colocada assim entre aspas porque, no caso de Agentes do Destino, ela se faz literal.
Os funcionários da divindade que traça o destino da humanidade se escondem do outro lado das maçanetas e quebram a noção de espaço ao circular por entre as várias portas de uma cidade. Fazem isso para proteger gente como o jovem candidato a senador americano David Norris (Damon) de um eventual erro de percurso. E o erro que dá partida ao ponto de virada do filme só pode ser, claro, o amor, o elemento mais volátil e imprevisível da nossa vivida tabela periódica.
Ao esbarrar pela primeira vez com Elise (Emily Blunt) em um banheiro masculino - encontros não convencionais para amores fora do script - o fortão e malhado David amolece. Não é pra menos: esta cena em particular é carregada de uma sutil sensualidade que não vemos assim com tanta frequência no cinema e a culpa disso é tão-somente de Emily Blunt, atriz que consegue dar uma densidade um tanto celestial ao "sex appeal" do casal. Quase lembra uma Lauren Bacall seduzindo Humphrey Bogart. O problema é que Matt Damon continua mais para Jason Bourne do que para os heróis mal-humorados e românticos de Bogart.
Eis então o impasse do filme. Enquanto tenta construir essa tensão romântica entre os personagens de Damon e Blunt, o diretor precisa atualizar os conflitos do amor com uma trama policial-sobrenatural e faz isso usando seu ator protagonista como isca para as cenas de perseguição, especialidade do moço em questão. Sim, porque quando descobre que existem homens de preto por trás das portas e eles calcularam seu futuro sem Elise, o jovem candidato a senador se torna automaticamente um problema. Ao achar essa Matrix do destino, David passa a ser uma perigosa variável. E vemos então que Matt Damon parece funcionar melhor como fugitivo do que como amante.
Mas a falta de romance em Damon não é o único porém dessa trama. A tensão entre o amor arrebatador e o destino que não o planejou se esfacela um pouco quando o roteiro tenta dar seriedade à sua literatura fantástica e começa a explicar o que não precisa ser explicado.
A exemplo de vários outros momentos didáticos sobre a interferência divina no destino dos indivíduos, um corporativo anjo chamado Thompson (Terence Stamp) entra em cena para reduzir a história da humanidade em deliberações que vêm "de cima". Cria toda uma lógica filosófica sobre como e por que os homens precisam de andar de coleira. Mais fácil seria se o filme não precisa se valer dessas notas de rodapé. É preciso deixar o sobrenatural ser ele mesmo em paz. Se o amor à primeira vista não se explica, tentar dar ciência à todo o resto fica cansativo.
Fonte: Cinema & DVD - Terra
O céu é um escritório do FBI onde Deus está sempre indisponível em sua sala enquanto seus funcionários-anjos rabiscam o destino da humanidade em cadernos moleskines. Assim em linhas gerais, este é o pano de fundo de Os Agentes do Destino, mais um filme que coloca Matt Damon para correr em uma ficção científica que quer ser gente grande ao tentar criar uma parábola sobre o livre arbítrio. E para sustentar um argumento que casa teocracia com burocracia, o estreante diretor George Nolfi coloca em primeiro plano uma história de amor daquelas que deveriam ser arrebatadoras, incondicionais, à moda antiga. Essa pelo menos era a intenção.
A lembrar que, bem longe de uma versão policiada de Asas do Desejo, de Wim Wenders, estamos falando de mais uma obra cinematográfica adaptada de um conto do best-seller Philip K. Dick, autor de histórias que devem chegar rápido à sua memória: Blade Runner, O Vingador do Futuro e Minority Report. Em comum, todos esses roteiros apresentam a boa e velha fórmula da teoria da conspiração, de que o mundo não é exatamente tal como o conhecemos e de que existem pessoas tramando "por trás das portas". Figura de linguagem colocada assim entre aspas porque, no caso de Agentes do Destino, ela se faz literal.
Os funcionários da divindade que traça o destino da humanidade se escondem do outro lado das maçanetas e quebram a noção de espaço ao circular por entre as várias portas de uma cidade. Fazem isso para proteger gente como o jovem candidato a senador americano David Norris (Damon) de um eventual erro de percurso. E o erro que dá partida ao ponto de virada do filme só pode ser, claro, o amor, o elemento mais volátil e imprevisível da nossa vivida tabela periódica.
Ao esbarrar pela primeira vez com Elise (Emily Blunt) em um banheiro masculino - encontros não convencionais para amores fora do script - o fortão e malhado David amolece. Não é pra menos: esta cena em particular é carregada de uma sutil sensualidade que não vemos assim com tanta frequência no cinema e a culpa disso é tão-somente de Emily Blunt, atriz que consegue dar uma densidade um tanto celestial ao "sex appeal" do casal. Quase lembra uma Lauren Bacall seduzindo Humphrey Bogart. O problema é que Matt Damon continua mais para Jason Bourne do que para os heróis mal-humorados e românticos de Bogart.
Eis então o impasse do filme. Enquanto tenta construir essa tensão romântica entre os personagens de Damon e Blunt, o diretor precisa atualizar os conflitos do amor com uma trama policial-sobrenatural e faz isso usando seu ator protagonista como isca para as cenas de perseguição, especialidade do moço em questão. Sim, porque quando descobre que existem homens de preto por trás das portas e eles calcularam seu futuro sem Elise, o jovem candidato a senador se torna automaticamente um problema. Ao achar essa Matrix do destino, David passa a ser uma perigosa variável. E vemos então que Matt Damon parece funcionar melhor como fugitivo do que como amante.
Mas a falta de romance em Damon não é o único porém dessa trama. A tensão entre o amor arrebatador e o destino que não o planejou se esfacela um pouco quando o roteiro tenta dar seriedade à sua literatura fantástica e começa a explicar o que não precisa ser explicado.
A exemplo de vários outros momentos didáticos sobre a interferência divina no destino dos indivíduos, um corporativo anjo chamado Thompson (Terence Stamp) entra em cena para reduzir a história da humanidade em deliberações que vêm "de cima". Cria toda uma lógica filosófica sobre como e por que os homens precisam de andar de coleira. Mais fácil seria se o filme não precisa se valer dessas notas de rodapé. É preciso deixar o sobrenatural ser ele mesmo em paz. Se o amor à primeira vista não se explica, tentar dar ciência à todo o resto fica cansativo.
Fonte: Cinema & DVD - Terra
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