Fernando Império
Ousadia e coragem. Essas duas palavras podem definir a adaptação cinematográfica de Nosso Lar. O filme, baseado na obra homônima de Chico Xavier, é ousado porque traz efeitos especiais bem produzidos e cenários dignos de Hollywood. Corajoso também ao adaptar um dos livros mais importantes do espiritismo, traduzido para dezenas de outras línguas e que já está na sua 60ª edição. Sem contar que tratar sobre espiritismo no maior país católico do mundo não é para qualquer equipe de cinema.
Não dá para negar: Nosso Lar é um filme pretensioso. E por conta disso deixa a desejar em alguns aspectos. A história se passa entre as décadas de 1930 e 1940 e centra-se no personagem André Luis, que após morrer desperta no umbra (algo parecido
com o purgatório), um lugar sombrio e escuro para almas que precisam aceitar a passagem para o mundo espiritual. Privações não vão faltar a André Luis, até que ele reconheça verdadeiramente que precisa ser curado.
Então uma equipe enviada pelo Nosso Lar, busca o homem, que irá passar por uma verdadeira transformação espiritual. O Nosso Lar é um local parecido com uma colônia em forma de cidade futurística. O filme aproveita André Luis para demonstrar aos
telespectadores como o espiritismo enxerga a vida após a morte e como acontece o processo de reencarnação terrestre.
Para os mais céticos, como este que vos escreve, Nosso Lar passa a impressão de ser um lugar burocrático, cheio de departamentos e cargos. Nada é de graça. Para ver a família é preciso trabalhar. Apenas quando se alcança um bônus de horas trabalhadas é que você precisa mostrar o relatório para o departamento de comunicação que vai avaliar se você está preparado para rever parentes na Terra. Enfim, Nosso Lar me pareceu bastante com Brasília.
Wagner Assis, diretor e roteirista do projeto, talvez precisasse de maior estrada para comandar um filme como Nosso Lar. Algumas cenas estão mal interpretadas e precisariam ser refeitas. O elenco conta com atores globais de prestígio como Paulo
Goulart, Ana Rosa, Clemente Viscaíno e Othon Bastos, mas infelizmente é justamente no elenco o ponto mais fraco do filme. Os personagens André Luis e Lisias vividos por Renato Pietro e Fernando Alves Pinto ficam a desejar.
Por outro lado, Nosso Lar é prova que o cinema brasileiro está evoluindo, aumentando o leque de temas abordados. O filme como um todo funciona e vale a pena ser assistido porque cada um tem sua crença e sendo assim, pode avaliá-lo de outra perspectiva. De qualquer modo, a adaptação da obra de Chico Xavier poderia até ser mais simples, porém com personagens mais bem trabalhados.
Fernando Império é jornalista e um dos sócios do blog Salada de Cinema. É fascinado pelo cinema e pelo poder que este exerce na manipulação das consciências.
Texto publicado na coluna Sala de Cinema, do site Campinas.com.br, em 31/08/10.
Ousadia e coragem. Essas duas palavras podem definir a adaptação cinematográfica de Nosso Lar. O filme, baseado na obra homônima de Chico Xavier, é ousado porque traz efeitos especiais bem produzidos e cenários dignos de Hollywood. Corajoso também ao adaptar um dos livros mais importantes do espiritismo, traduzido para dezenas de outras línguas e que já está na sua 60ª edição. Sem contar que tratar sobre espiritismo no maior país católico do mundo não é para qualquer equipe de cinema.
Não dá para negar: Nosso Lar é um filme pretensioso. E por conta disso deixa a desejar em alguns aspectos. A história se passa entre as décadas de 1930 e 1940 e centra-se no personagem André Luis, que após morrer desperta no umbra (algo parecido
com o purgatório), um lugar sombrio e escuro para almas que precisam aceitar a passagem para o mundo espiritual. Privações não vão faltar a André Luis, até que ele reconheça verdadeiramente que precisa ser curado.
Então uma equipe enviada pelo Nosso Lar, busca o homem, que irá passar por uma verdadeira transformação espiritual. O Nosso Lar é um local parecido com uma colônia em forma de cidade futurística. O filme aproveita André Luis para demonstrar aos
telespectadores como o espiritismo enxerga a vida após a morte e como acontece o processo de reencarnação terrestre.
Para os mais céticos, como este que vos escreve, Nosso Lar passa a impressão de ser um lugar burocrático, cheio de departamentos e cargos. Nada é de graça. Para ver a família é preciso trabalhar. Apenas quando se alcança um bônus de horas trabalhadas é que você precisa mostrar o relatório para o departamento de comunicação que vai avaliar se você está preparado para rever parentes na Terra. Enfim, Nosso Lar me pareceu bastante com Brasília.
Wagner Assis, diretor e roteirista do projeto, talvez precisasse de maior estrada para comandar um filme como Nosso Lar. Algumas cenas estão mal interpretadas e precisariam ser refeitas. O elenco conta com atores globais de prestígio como Paulo
Goulart, Ana Rosa, Clemente Viscaíno e Othon Bastos, mas infelizmente é justamente no elenco o ponto mais fraco do filme. Os personagens André Luis e Lisias vividos por Renato Pietro e Fernando Alves Pinto ficam a desejar.
Por outro lado, Nosso Lar é prova que o cinema brasileiro está evoluindo, aumentando o leque de temas abordados. O filme como um todo funciona e vale a pena ser assistido porque cada um tem sua crença e sendo assim, pode avaliá-lo de outra perspectiva. De qualquer modo, a adaptação da obra de Chico Xavier poderia até ser mais simples, porém com personagens mais bem trabalhados.
Fernando Império é jornalista e um dos sócios do blog Salada de Cinema. É fascinado pelo cinema e pelo poder que este exerce na manipulação das consciências.
Texto publicado na coluna Sala de Cinema, do site Campinas.com.br, em 31/08/10.